Oração




Em, 30.11.2010
Por  Pietra Luña

Feriado na cidade. O Dia do Evangélico para quase tudo por aqui (nem vou questionar essa data, pois é cada disparate nesta vida). Os carros escasseiam nas ruas, as pessoas se recolhem e algumas lojas do comércio ficam à espera dos compulsivos natalinos. Entretanto, em homenagem àqueles celebram sua fé, resolvi louvar a minha. 


Nesta época do ano a paisagem de Brasília se enche de frutos. É a natureza em ação provando que "o que aqui se planta, aqui se colhe". O eixo monumental fica verdinho, assim como as entrequadras, e os ipês, que faziam o espetáculo na seca, se recolhem para as mangueiras desfilarem carregadas de mangas suculentas (ou semicomidas por passarinhos e outros bichos). Flores cedem lugares aos frutos. Cada qual vivendo em seu tempo. Cada qual desaparecendo em sua ordem.


Fico pensando em quantas vezes, de verdade, me deixo amadurecer naturalmente até virar fruto pronto para ser consumido. Percebo que, em geral, eu atiro pedras contra mim mesma no afã de colher os resultados do meu tempo ainda verde. Sou ansiosa e apressada? Ou sou faminta feito moleque de rua? Talvez eu seja uma mistura descompensada de ipê e mangueira. Um híbrido que floresce, seca e frutifica simultaneamente e fica completamente minguado em poucas horas. Ou, quem sabe, eu passe longas primaveras com meus galhos sentimentais à mostra, e, por isso, tão ferida no verão, que prefira camuflar minhas verdejantes ideias?


A idade avançando tem seus paradoxos. Há certo pendor em esperar melhor o contar das horas, que a juventude insiste em querer pular para chegar mais rápido (onde mesmo?). Por outro lado, há a certeza de que se tem menos tempo para tentar. Nesse ínterim, entre ser jovem ou adulto maduro, a dona do tempo continua sendo a pressa.  

Penso que nesta época de tantos hormônios e muita química para os pintos se tornarem frangos, as sementes se tornarem comida, o x virar y, eu esteja me apressando em tornar-me nada, apenas um simulacro do que eu poderia ter sido/sou. Ou será que nesta época midiática alguém é o que de fato vemos? Tudo parece. Sem pressa olhamos a vida dos outros. 

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