A música de Brasília


Em, 01.12.2010
Por  Pietra Luña


A cidade acordou nublada e somente às oito da manhã eu vi surgir um pouco de sol se deitando na ponta do prédio vizinho. Do mesmo jeito que o raio chegou escorregadio, veio a cantoria de alguns passarinhos da rua. No instante pensei: qual é a música de Brasília? Qual é o tom que ela emite? Pois acho que toda cidade tem um som e tem um aroma. Consigo sentir o cheiro de São Paulo e do Rio de Janeiro só de me imaginar andando pela Augusta ou pela Vieira Souto, assim como é inesquecível o cheiro do pelourinho de Salvador. Aqui tem cheiro de cimento.

Dirigindo o dia inteiro (porque eu tinha mil coisas para fazer na rua), fui buscar a musicalidade do bairro. Sim, porque acho que cada lugar deve ter seu ruído. Lembrei-me que, em setembro, no plano-piloto temos as sonoras cigarras que não cessam de ocupar nossos ouvidos.  Nas outras estações, os bem-te-vis e outros cantores (não sei nome das espécies) preenchem os dias mais ensolarados. 


Desliguei o toca CDs do carro, calei o Pouca Vogal e fui andar com ouvidos atentos para dar aos meus sentidos uma outra cidade. De um canto a outro, posso dizer que praticamente não ouvi qualquer buzina! A melodia brasiliense é agradável. Os olhos abertos que miram o trânsito, os engarrafamentos, os estacionamentos lotados, quando fechados nos dão a chance de ouvir uma capital muito diferente daquela vista. Ouvi uma cidade relativamente tranquila. Se não fosse pelo porém (ele sempre aparece).

Eu escutava um vrunhumm-vrunhumm feito batedeira velha: as motos! Que inferno é o som das motocicletas agrupadas feito enxame: vrumm-vrummm! pocpocpocpoc! vrummm-vruummm! pocpocpocpoc! A harmonia   foi-se embora. E, como eu pouco cruzei com veículos desregulados ou com escapamentos detonados, não me vi passando por uma bateria de escola de carro-samba na W3. Ainda bem. Claro que vez por outra atravessava um desafino por causa de uma buzinadinha aqui, uma freiada ali ou uma sirene acolá. Entretanto, dezembro nascia ao som dos passarinhos e do silêncio que ocupa a vaga que o vento deixa logo após um carro passar rápido por você. Ssshummm, com cheiro de chuva.   





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