Em, 8.4.2011
Por Pietra Luña
Gosto muito das sextas-feiras. É o dia da semana favorito, porque ele indica fim e começo. A rotina ganha termo e na sequência nascem dois dias para curtir melhor os quase ocultos prazeres de viver. Normalmente, mesmo tendo que trabalhar todas às noites, eu guardo essas tardes para curtir desde a ressaca da balada de quinta, o café com a prima, o encontro com um affair, o bate-papo com velhas amigas até o encaixe de um ombro a um necessitado ou tal e coisa. Momento livre para os contentamentos e oportunidade para descobrir, conhecer e frequentar bons lugares.
Sete dias antes, decidimos nos reunir depois de décadas. Era um encontro de quatro mulheres, que se conheceram - há 32 anos - por serem vizinhas em um bloco da Asa Sul, na década de 80. Tudo (re)começou quando uma ligou para outra perguntando pela fulana que queria também saber da ciclana! Feito a Quadrilha de Drummond, fomos tomar o chá das quinze horas, para... para... para... além de comer tortas, doces e salgados, para... não sei exatamente.
Um misto de curiosidade, medo, nostalgia, vergonha, alegria (e tédio?) me levaram a querer reencontrar o passado? Ou será um fenômeno próprio dessa fase da vida quarentona? Mais disponibilidade para os afetos, as pessoas? Ou é solidão? É saudade? O que nos move em direção à memória da juventude, da infância? Por que buscar as testemunhas das aventuras, armadilhas, gostos e desgostos adolescentes? Será uma espécie de antropofilia tardia? Ou é apenas uma tradição cultural como aquela de reunir colegas de escola e faculdade? Oportunidade para fazer comparações "antes-depois", desforra? Diversão pura e simples?
Sem explicações possíveis e com leve tremor no corpo segui para a cafeteria perto de casa. Abraços apertados depois, nos sentamos e necessariamente falamos sobre a superfície de quem somos hoje, respondendo às perguntas previsíveis "casou? tem filhos? trabalha em que? mora onde?", e lembramos a imagem embaçada de quem fomos antes. Cada uma transitou entre seus esquecimentos involuntários e intencionais, assim como omitiu particularidades do agora cara a cara. Sorrimos muito. Comemos muito. Prometemos nos reencontrar muito. Demoramos pouco. Foram três horas de reminiscências suficientes para sabermos que a fofoqueira continua igual, a rebelde se enquadrou, a quieta se rebelou e a jovem que pouco se aproximava de mim naquele tempo continuou não o fazendo até ali por interno receio, apesar da vontade.
Naquela mesa adornada de confeitos, éramos quatro representantes de uma época - uma de cada prumada do mesmo bloco X. Paguei a conta, entrei no carro e fui trabalhar. Surgiu a imagem do menino que todas beijaram e se deixaram seduzir aos 14 anos. Ri sozinha diante da cena. Um riso frouxo por dentro se esboçou no canto da minha boca em silêncio. No pensamento a certeza de que alguns registros não morrem, ainda que a gente queira enterrar.
-x-
Confeitarias, padarias sofisticadas e cafés são opções que sempre estou disposta a arriscar e, pelo visto, estão na moda em Brasília. Pela segunda vez, fui à recém-inaugurada Cafeteria Maria Amélia que deveria se chamar "confeitaria", pois não tem o clima, charme e nem as características de um Café. Novamente lotada, talvez pela novidade, tem um atendimento demorado, mesmo para um buffet. E, mais, a grife não guarda a mesma qualidade que lhe deu a fama. Explico. Conheci os bolos e doces da empresária indo, principalmente, a casamentos chiques. De fato eram destaques pelo sabor e desenho, contudo na loja (308 sul) não sustentam o mesmo gosto e aparência. É como se estivéssemos numa ponta de estoque, numa liquidação, pagando por lançamento. Não aprovei. Aliás, nesta cidade poucos lugares são realmente irretocáveis, assim como nós.
incrivel como somos todas parecidas.Também amo a sexta pela proximidade com o final de semana e por ser o último dia de trabalho na semana.Esses reencontros fazem minha cabeça.Eu mesma já participei de vários.Grupos de jovens da Igreja,curso do colegio,da faculdade,da turma da rua,de primos,familia etc...São nostalgicos e atraentes, sempre tiram de nós coisas que ficaram retidas,acordam emoções,matam saudades e deixam muitas mais por serem de épocas que já terminaram.Encontros com biscoitos e doces.gargalhadas antres das cinco...realmente fazem qualquer final de semana brilhar.
ResponderExcluirabraços