Devassas, por que nós queremos também!



Em, 7.4.2011
Por  Pietra Luña



Meu ex-quinto-decrescente-namorado-sério faz aniversário nesta semana. Lembrei muito dele quando fui  conhecer o recém-inaugurado boteco batizado de "Devassa" - em "homenagem" às mulheres e suas peculiaridades genéticas: sarará, negra, loura, índia, ruiva - a cerveja-amante. O lugar é descolado, uma arquitetura interessante que divide a cervejaria em vários ambientes criando "climas" e, por ser novidade, cheio de gente. 

Chegando lá, para encontrar um amigo e seus amigos, fator que já me deu um certo gelo (por causa do velho mito construído na minha infância de que mulher não entra no "Clube do Bolinha"), não pude deixar de me lembrar da Sandy, a garota propaganda,  e do meu tal ex. 

Afinal, a doce filha do Xororó representava bem a "devassa"? E, mais, o que é ser mulher devassa, perguntei à mesa. Entre entendidos e discretos, o resumo popular é que mulher devassa é aquela que "gosta de sexo", "é sensual", "tem  jeito/cara de quem faz bem a coisa", "é quente" ou por oposição "não é frígida", "não é sem sal", "não é puritana"...

Não resisiti ao dicionário! O Houaiss explica que o transitivo direto devassar é o mesmo que "invadir, observar, conhecer por completo (o que é defeso ou vedado)", "penetrar na parte íntima de; investigar", e também pronominal "fazer(-se) conhecer, desvendar(-se), divulgar(-se), tornar(-se) generalizado; vulgarizar(-se)". 

Juntando as opiniões acabei concordando com os rapazes que se eu fosse homem não teria tesão na Sandy, com aquela cara de menininha-bochechuda-rosa. Bem ao contrário da minha que sempre disseram passar uma ideia de "tarada". Então, na mesma toada, lembrei também que quando eu namorava o meu ex-quinto-citado, com o qual "perdi", aos quase 18, a tal virgindade (que mais parecia um carma do que uma dádiva), fomos ao médico saber porque eu não gozava. 

O doutor, que tinha um ar devasso, tratou logo de exemplificar o caso para eu entender bem direitinho o que se passava (ou não passava nesse caso). 

- Querida (íntimo demais, né?)! Sabe um músico quando toca um violão? 
- Uhum.
- Ele precisa saber tocar não é mesmo?
- Uhum.
- Imagine, por exemplo, o Raphael Rabello tocando um violão. Ele pega o instrumento e tira um som maravilhoso! Já eu que não sei tocar, vou mexer, virar, dedilhar, sacodir e não vai sair nada! Entendeu menina? Tudo depende de quem pega o violão!
- Uhum.

Meu ginecologista tinha acabado de dar a sentença do quanto meu parceiro era inábil no quesito excitar uma mulher. Sai do consultório na dúvida se eu era um violão sete cordas ou um comum mesmo ou se meu noivo era um desajeitado costumaz. Como eu poderia emitir os meus melhores sons se o meu tocador não sabia as notas e tampouco a partitura? 

Dei o exemplo a ele, que ficou indignado obviamente, pois parece que há um acordo tácito de que os problemas sexuais são sempre por causa da mulher. Terminamos o noivado meses depois. Ainda não sabia que eu era uma devassa, só descobri essa qualidade com um rolo informal entre os dois firmes. Com o Luís Ricardo fiz ótima parceria. Juntos nos devassamos, desvendamos um ao outro, nos penetramos, nos invadimos tal como no dicionário e conjugamos carnalmente nossos desejos em comum acordo. Ali percebi que eu queria o mesmo que os homens querem: uma boa trepada, com um homem quente, que gosta do instrumento que vai tocar e sabe como fazê-lo! 

A garçonete trouxe o meu sexto ou talvez sétimo chopp loiro, olhei para um dos meus divertidos e interessantes parceiros de cervejada, fiz um raio x e já o imaginei quase nu me dando uma bela chupada.  Saúde! Tim-tim!

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