Saudades da RÊ...






Em, 10.4.2011
Por  Pietra Luña


Bateu uma saudade dos anos 80 e hoje vasculhando a  internet encontrei um documentário dossiê sobre a morte da Rê Bordosa, o alterego (dizem) do seu criador Angeli. Será que ela precisou morrer para outras nascerem? Passei o domingo relendo suas aventuras, muitas das quais já vi ao vivo nas ruas de Brasília...


Enquanto isso no MSN...


Em, 9.4.2011
Por  Pietra Luña





Nessa era de internet, fico em dúvida se alguns homens estão "perdidos" por:

1) não saberem bem sobre o funcionamento das novas tecnologias (redes sociais);
2) não assumirem nunca o que realmente querem;
3) não compreenderem que os tempos mudaram;
4) não entenderem que suas intenções são mais óbvias do que imaginam;
5) acharem que mulheres são idiotas e cegas;
6) todas anteriores.

Recebi por email, neste sábado, o seguinte "diálogo":

ELE – eu fui muito direto?
ELA - olha, mesmo sem ser claro, eu acho que vc só quer transar comigo desde sempre. Alias, o que acho foda é o cara fingir que tem algum outro interesse.,  qdo na real quer beijar e trepar
ELE  - essa é sim uma vontade. Impossível negar isso vendo seus labios e o olhar. mas estaria mentindo se dissesse que nao poderia evoluir. essa é a unica certeza
ELA - acho que pessoas adultas podem assumir os desejos sem delongas  e eu sei que nao vai evoluir kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ELE  - bom.. nao tiro certezas assim premeditadamente
ELA - ah, querido, as suas vontades, quais sao?
ELE  - olha, eu sinceramente tenho varias vontades
ELA - eu tenho algumas certezas já. talvez seja a idade ne rsrsrsr. por exemplo, a minha vontade maior de todas  é realmente conhecer pessoas interessantes e isso varia. mas isso é muitooooooooooooooooooo difícil...
ELE – concordo...
ELA - entao, em segundo plano meu desejo é conhecer pessoas muito tesudas. mas isso é muitooooooooooooo dificil tbm na reciprocidade e ate mesmo na química. entao, em terceiro plano
ELE  - isso só se sabe depois do toque, do cheiro, da quimica entre os corpos...
ELA – (clarooooo, mas não é fácil tbm).  entao, em terceiro plano meu desejo é curtir um momento apenas, com alguém. e isso já é bem mais facil
ELE  - ser sincero e saber o que quer é um bom começo...
ELA - posso me iludir, mais do que me enganar, se é que me entende.
ELE  - gosto disso e tomar um banho de lingua, de alguem com muito tesao, faz parte dos seus desejos?


:0

Chá, café, torta, doces, salgados e gargalhadas antes das cinco





Em, 8.4.2011
Por  Pietra Luña


Gosto muito das sextas-feiras. É o dia da semana favorito, porque ele indica fim e começo. A rotina ganha termo e na sequência nascem dois dias para curtir melhor os quase ocultos prazeres de viver. Normalmente, mesmo tendo que trabalhar todas às noites, eu guardo  essas tardes para curtir desde a ressaca da balada de quinta, o café com a prima, o encontro com um affair, o bate-papo com velhas amigas até o encaixe de um ombro a um necessitado ou tal e coisa. Momento livre para os contentamentos e oportunidade para descobrir, conhecer e frequentar bons lugares. 

Sete dias antes, decidimos nos reunir depois de décadas. Era um encontro de quatro mulheres, que se conheceram - há 32 anos - por serem vizinhas em um bloco da Asa Sul, na década de 80. Tudo (re)começou quando uma ligou para outra perguntando pela fulana que queria também saber da ciclana! Feito a Quadrilha de Drummond, fomos tomar o chá das quinze horas, para... para... para... além de comer tortas, doces e salgados, para... não sei exatamente. 

Um misto de curiosidade, medo, nostalgia, vergonha, alegria (e tédio?) me levaram a querer reencontrar o passado? Ou será um fenômeno próprio dessa fase da vida quarentona? Mais disponibilidade para os afetos, as pessoas? Ou é solidão? É saudade? O que nos move em direção à memória da juventude, da infância? Por que buscar as testemunhas das aventuras, armadilhas, gostos e desgostos adolescentes? Será uma espécie de antropofilia tardia? Ou é apenas uma tradição cultural como aquela de reunir colegas de escola e faculdade? Oportunidade para fazer comparações "antes-depois", desforra? Diversão pura e simples?

Sem explicações possíveis e com leve tremor no corpo segui para a cafeteria perto de casa. Abraços apertados depois, nos sentamos e necessariamente falamos sobre a superfície de quem somos hoje, respondendo às perguntas previsíveis "casou? tem filhos? trabalha em que? mora onde?", e lembramos a imagem embaçada de quem fomos antes. Cada uma transitou entre seus esquecimentos involuntários e intencionais, assim como omitiu particularidades do agora cara a cara. Sorrimos muito. Comemos muito. Prometemos nos reencontrar muito. Demoramos pouco. Foram três horas de reminiscências suficientes para sabermos que a fofoqueira continua igual, a rebelde se enquadrou, a quieta se rebelou e a jovem que pouco se aproximava de mim naquele tempo continuou não o fazendo até ali por interno receio, apesar da vontade. 

Naquela mesa adornada de confeitos, éramos quatro representantes de uma época - uma de cada prumada do mesmo bloco X. Paguei a conta, entrei no carro e fui trabalhar. Surgiu a imagem do menino que todas beijaram e se deixaram seduzir aos 14 anos. Ri sozinha diante da cena. Um riso frouxo por dentro se esboçou no canto da minha boca em silêncio. No pensamento a certeza de que alguns registros não morrem, ainda que a gente queira enterrar. 

-x-


Confeitarias, padarias sofisticadas e cafés são opções que sempre estou disposta a arriscar e, pelo visto, estão na moda em Brasília. Pela segunda vez, fui à recém-inaugurada Cafeteria Maria Amélia que deveria se chamar "confeitaria", pois não tem o clima, charme e nem as características de um Café. Novamente lotada, talvez pela novidade, tem um atendimento demorado, mesmo para um buffet. E, mais, a grife não guarda a mesma qualidade que lhe deu a fama. Explico. Conheci os bolos e doces da empresária indo, principalmente, a casamentos chiques. De fato eram destaques pelo sabor e desenho, contudo na loja (308 sul) não sustentam o mesmo gosto e aparência. É como se estivéssemos numa ponta de estoque, numa liquidação, pagando por lançamento. Não aprovei. Aliás, nesta cidade poucos lugares são realmente irretocáveis, assim como nós.

Devassas, por que nós queremos também!



Em, 7.4.2011
Por  Pietra Luña



Meu ex-quinto-decrescente-namorado-sério faz aniversário nesta semana. Lembrei muito dele quando fui  conhecer o recém-inaugurado boteco batizado de "Devassa" - em "homenagem" às mulheres e suas peculiaridades genéticas: sarará, negra, loura, índia, ruiva - a cerveja-amante. O lugar é descolado, uma arquitetura interessante que divide a cervejaria em vários ambientes criando "climas" e, por ser novidade, cheio de gente. 

Chegando lá, para encontrar um amigo e seus amigos, fator que já me deu um certo gelo (por causa do velho mito construído na minha infância de que mulher não entra no "Clube do Bolinha"), não pude deixar de me lembrar da Sandy, a garota propaganda,  e do meu tal ex. 

Afinal, a doce filha do Xororó representava bem a "devassa"? E, mais, o que é ser mulher devassa, perguntei à mesa. Entre entendidos e discretos, o resumo popular é que mulher devassa é aquela que "gosta de sexo", "é sensual", "tem  jeito/cara de quem faz bem a coisa", "é quente" ou por oposição "não é frígida", "não é sem sal", "não é puritana"...

Não resisiti ao dicionário! O Houaiss explica que o transitivo direto devassar é o mesmo que "invadir, observar, conhecer por completo (o que é defeso ou vedado)", "penetrar na parte íntima de; investigar", e também pronominal "fazer(-se) conhecer, desvendar(-se), divulgar(-se), tornar(-se) generalizado; vulgarizar(-se)". 

Juntando as opiniões acabei concordando com os rapazes que se eu fosse homem não teria tesão na Sandy, com aquela cara de menininha-bochechuda-rosa. Bem ao contrário da minha que sempre disseram passar uma ideia de "tarada". Então, na mesma toada, lembrei também que quando eu namorava o meu ex-quinto-citado, com o qual "perdi", aos quase 18, a tal virgindade (que mais parecia um carma do que uma dádiva), fomos ao médico saber porque eu não gozava. 

O doutor, que tinha um ar devasso, tratou logo de exemplificar o caso para eu entender bem direitinho o que se passava (ou não passava nesse caso). 

- Querida (íntimo demais, né?)! Sabe um músico quando toca um violão? 
- Uhum.
- Ele precisa saber tocar não é mesmo?
- Uhum.
- Imagine, por exemplo, o Raphael Rabello tocando um violão. Ele pega o instrumento e tira um som maravilhoso! Já eu que não sei tocar, vou mexer, virar, dedilhar, sacodir e não vai sair nada! Entendeu menina? Tudo depende de quem pega o violão!
- Uhum.

Meu ginecologista tinha acabado de dar a sentença do quanto meu parceiro era inábil no quesito excitar uma mulher. Sai do consultório na dúvida se eu era um violão sete cordas ou um comum mesmo ou se meu noivo era um desajeitado costumaz. Como eu poderia emitir os meus melhores sons se o meu tocador não sabia as notas e tampouco a partitura? 

Dei o exemplo a ele, que ficou indignado obviamente, pois parece que há um acordo tácito de que os problemas sexuais são sempre por causa da mulher. Terminamos o noivado meses depois. Ainda não sabia que eu era uma devassa, só descobri essa qualidade com um rolo informal entre os dois firmes. Com o Luís Ricardo fiz ótima parceria. Juntos nos devassamos, desvendamos um ao outro, nos penetramos, nos invadimos tal como no dicionário e conjugamos carnalmente nossos desejos em comum acordo. Ali percebi que eu queria o mesmo que os homens querem: uma boa trepada, com um homem quente, que gosta do instrumento que vai tocar e sabe como fazê-lo! 

A garçonete trouxe o meu sexto ou talvez sétimo chopp loiro, olhei para um dos meus divertidos e interessantes parceiros de cervejada, fiz um raio x e já o imaginei quase nu me dando uma bela chupada.  Saúde! Tim-tim!

Para que serve uma TV se você não vê?



Em, 6.4.2011
Por  Pietra Luña


No fim desta tarde, tive que sair apressada para resolver um problema. Minha pequena filhota estava tirando uma soneca e a empregada tinha saído de folga. E agora? De um lado a urgência e de outro a prudência. Acordar a criança naquele momento não era a melhor opção. Deixar de acudir a questão, sem chance. Comecei a pensar e logo imaginei deixar um bilhetinho com a frase "mamãe foi procurar um documento no carro e volta já". Como ela sabe ler, estaria ali a minha ausência explicada. Contudo, onde dependurar o papelzinho antes de ela levar um baita susto ao não me ver em casa? 

Isso me fez percorrer a casa em busca dos melhores lugares de comunicação. Quais seriam as mídias sociais do meu lar?  Espelho? Porta do quarto? Geladeira? Porta de casa? Guarda-roupa? E mais, quais seriam os lugares que os meus familiares escolheriam para deixar um recado para mim? 

A resposta foi interessante. Há em casa meios fundamentais e diferentes para cada um dos moradores. Explicarei três deles.

Com a minha dedicada empregada, eu me comunico pelo fogão. É lá que deixo a lista de compras durante a madrugada ou o cardápio do almoço de amanhã. É lá que informo o horário que preciso ser acordada para tomar o café antes da correria do dia que nasce. É lá em cima da trempe que eu acendo as informações tardias que não tiveram tempo de chegar ao vivo. 

Já a minha caixa postal doméstica é o computador. É por cima do teclado preto que chegam os quadradinhos manuscritos dizendo "amanhã tenho médico as 9h", "fulana ligou", "tem que comprar gás". Quando chego à noite,  pego a correspondência eventual sobre as teclas "inquietas" do PC e respondo postando nas bocas "faladeiras" do fogão. 

Ih, como me comunicar com a minha meninota assim de repente? Dentre as várias possibilidades, a automática, que ela sempre (em ato contínuo) faz quando não está em seu quarto é ligar a televisão da sala!

Então, escrevi a mensagem, finalizei com "eu te amo", cortei um pedaço de durex e pimba na tela da Globo, colei bem na cara da novela das seis! Quem fala pela "telinha" agora sou eu, que há anos não ligo um televisor e tampouco acendo um fogão. Acho que estou grudada demais no computador. Isso pode, Arnaldo?

Finais felizes!

clique na imagem para brindar também!


Em, 5.4.2011
Por  Pietra Luña


Acabo de terminar um noivado de dois anos. Iria me casar no meio deste ano e, 90 dias antes, vi que o noivo tinha objetivos de vida muito diferentes do meu. Ele queria estar no mundo ditando normas de conduta para os outros, avaliando o certo e o errado da vida alheia, teorizando sobre decisões humanas. Eu quero estar no mundo desconstruindo olhares, conhecendo motivos variados para existir, acolhendo vulnerabilidades por saber o quanto doem, porque a vida é agora.

Não foi uma decisão fácil, porque havia uma excitação forte entre nós. Eu sugava o que ele me oferecia de novo e ele a minha audiência. Sou assim. Já tínhamos providenciado toda a logística para ficarmos juntos. Eu trabalhei muito para fazer o enxoval no melhor nível, com alta classe. Tudo bem passado, esmerado, nota dez. Faltava apenas enviar os convites para a festa e foi no dia de escrever o texto que me dei conta: “o que desejo dizer para marcar esse momento tão importante?” Travei. Chorei.

Era um ritual de passagem. Sair de uma condição para outra. Algo que nós seres sociais temos alguma necessidade de divulgar ou somos cobrados a fazê-lo. Da mesma forma que o pedido aceito de casamento foi alardeado, para felicidade geral, o casório também devia ter o mesmo tratamento; até maior dada a relevância que a sociedade a ele atribui.

Eu não estava feliz. Os preparativos para o casamento tinham me exaurido. Muitas discussões sobre ser assim ou assado. Divergências praticamente intransponíveis para ambos. Cheguei a comentar com alguns amigos e sempre a mesma recomendação: “calma, você está estressada. Vai passar”. Duvidei.

Imaginar-me entrando na igreja, arrastando o véu longo de tecido caro, com um sorriso estampado no rosto era impossível. A única imagem que eu enxergava era de desespero, medo e vontade de correr escadas abaixo gritando: “naaaãoooooooooo!” Havia um pânico em fazer a troca de alianças e sustentá-la no dedo para o “sempre”.

Vinha no pensamento o arco dourado reluzente, definitivo, e alguém a perguntar: “quem é o seu marido?”, “quantos filhos vocês têm?”, “onde passaram as últimas férias?”. E eu me constranger ou tentar responder que aquele casamento era de fachada, pois eu antevia que não haveria filho, que não iríamos a congressos juntos, que não me orgulharia dele ao meu lado na mesa de um bar ou na festa de aniversário da prima. Apenas seria confortável dizer “eu sou casada”.

Casar para ser casada? Não. Já havia feito dois outros casamentos praticamente nas mesmas bases, porque tinham me convencido de que era o “melhor para mim”. “Sabe né, mulher sozinha, solteirona... não vive bem”, “ah, fulano nem é tão ruim assim! Quem sabe você passa a amá-lo?”, “todo homem é assim, maltrata um pouco, mas é bom”. Chega! Esse raciocínio não me servia mais. Até tive algum ganho nas situações anteriores, porém depois dos quarenta não deveria pesar mais a vida pelas migalhas. O momento do tudo ou nada se apresentou diante da fotografia do buquê de orquídeas lilases que eu jogaria a alguma amiga louca para casar.

Então, hoje, quando comecei a rascunhar na tela do meu computador a frase “convidam para...”, senti a coluna se erguer e as mãos quase involuntariamente agarrarem o teclado para digitar “... cerimônia de desenlace. Os ex-noivos receberão os cumprimentos no salão B, por terem – em tempo hábil – descoberto a incompatibilidade que se arrastaria como peso morto pela vida de ambos. As famílias fazem questão de receber os convidados para comemorarem essa decisão tão sábia, que propiciará harmonia interior e respeito às individualidades e às diferenças dos ex-nubentes, para que a morte não os una em vida”.



Respirei aliviada. Finalmente tinha me dado conta de quantas decisões importantes tomei e quanta energia investi contra minha própria satisfação, em nome de uma “verdade” construída menos por minha intuição, sensibilidade, e mais pelo meu ambiente, família, cultura, cidade; para os quais se sobrepõem as leis do “mais vantajoso”, “maior dinheiro”,  “certo”,  “melhor para mim”, “a vida é difícil mesmo”, “são os ossos” e blábláblá. Desta vez não. Podia pegar o avião, mais uma vez, na quarta-feira. 

Recordei um a um os atalhos que percorri, achando ser o caminho mais fácil, rápido ou garantido. Puro medo de ser eu e assumir minha diferença, minha falta de enquadramento, minha dispersão da multidão, que na minha fantasia é um tanto mais vacinada para ser infeliz e acomodada na insatisfação do que eu.

Entretanto, constatei, novamente, o quanto sou influenciável, manipulável e cordata ao obedecer por mais de quatro décadas os desígnios do socialmente melhor aceito (na corrente do status e dinheiro) em contrariedade ao meu desejo e natureza de interagir espontaneamente com pessoas, compreender a vida e expressar minhas percepções sem regras preestabelecidas.   

Esse compromisso não era para mim e eu não tinha porque assumi-lo. Tirei da caixa o vestido branco, estendi sobre a cama, coloquei minha aliança por cima, ajeitei a grinalda e o véu junto a todas as anotações, registros dessa história, tirei uma fotografia e embalei. O telefone tocou e minha amiga eufórica disse: “Acabo de desistir do mestrado. Enfim, nada de lattes, títulos, artigos obrigatórios... Era tudo uma farsa...”. Peguei o pacote, passei no correio e saímos para brindar, com um champanhe, as desistências necessárias, aquelas que nunca nos apoiam ou ensinam, mas que são fundamentais para a saúde mental, emocional e até mesmo física. É quando se abre a possibilidade de um final realmente feliz. 

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