Papai Noel invade as ruas para eu não esquecê-lo |
Em, 07.12.2010
Por Pietra Luña
Não reparei exatamente quando as ruas de Brasília começaram a ter "cara" de natal. Final de novembro? Talvez. Porém, não tenho mais como ignorar que estamos perto da penitência natalina e, por consequência, dos transtornos emocionais que vêm como presentes caros nessa data.
Ainda que eu apele para a bonitinha história da comemoração ou do interessante surgimento das luzes do natal, não posso negar que já me cansei da repetição mal-sucedida a qual sou convidada obrigada (?) a conviver todos os anos (ou me restará ser eremita como Thoreau) para não ouvir reclamações até o ano que vem.
O mês de dezembro vem deliciosamente recheado como um imenso e pesado peru. Vemos uma farofada destemperada de amigos ocultos; um panelão de sentimentos remoídos e assados por longo tempo que se juntam ao pálido arroz dos parentes esquecidos. É uma mesa posta de hipocrisias, desconfortos e juras mentirosas de bem-querença a cada abraço de "feliz natal" ao som da remixada "noite feliz". E haja bebida para disfarçar tantos constrangimentos ao juntar dos ombros estranhos antes dos dissimulados tapinhas nas costas.
Sei que algumas famílias "terrivelmente felizes" devem fazer ceias natalinas menos conflitantes (com todos os membros bem adestrados para o evento). Entretanto, pergunto-me: será possível em um reduto familiar todos os participantes se darem bem e quererem ali estar ou este é o dia do exercício do poder patriarcal/matriarcal de colocar todos sob o mesmo jugo? Que cultura mais sórdida e sádica é esta?
O problema não é gostar do natal, a questão é viver em um lugar onde todos dizem apreciá-lo. O dilema é querer não participar e estar rodeado de avisos: é natal! é natal! é natal! é natal! Uma lavagem cerebral no estilo "compre batom" se espalha nas ruas, nas lojas, na repartição, na TV, no bairro, no comércio, nas perguntas, nos papos. Já comprou os presentes? Vai passar o dia do natal onde? E ai de você dizer: não gosto do natal. Ah, não seja intolerante, ouviria. Mas é exatamente dessa intolerância contra quem não gosta destas festividades de fim de ano que estou falando! O marketing é tão eficiente que já fizeram o bom velhinho verde que dá mimos sustentáveis!
Eu já resolvi que no dia 24/12 farei uma rave à fantasia: papai noel, gnomos, capetas, santos, bruxas, cristos, fadas, deuses, saci-pererês e outros seres imaginários, entidades divinas, personagens de lendas se reunirão na grande festa do mitos para dançarem sem parar até chegar o dia 26. Comprem suas fantasias! Porque eu já tenho a minha e incendiarei o Natal com a tocha de Prometeu.
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