Silêncio necessário ou verdades desnecessárias?


Em, 16.12.2010
Por  Pietra Luña



Assistindo a uma apresentação de balé clássico na decadente Villa-Lobos rememorei o quanto as palavras impróprias têm força e efeito destrutivo na autoestima do indivíduo, principalmente, em algumas situações bem específicas. Minha mãe conta que eu não estudei balé quando criancinha porque faltava grana. Uma verdade necessária para se compreender a respeito de uma impossibilidade, uma limitação. 

Até ai tudo bem e confesso que eu nem me lembro bem desse desejo pelas sapatilhas em si. O que mais me recordo é que sempre adorei dançar e continuei crescendo com a vontade de sacolejar o corpo para uma variedade de músicas. Até que... 

Numa tarde qualquer da minha adolescência, por volta dos 14 anos, fui surpreendida pela frase "seu irmão tem muito mais molejo e jeito para dançar do que você". Ocorre QUE esse irmãozinho de 11 anos não gostava (continua não suportando e nem sabendo tal) de dançar e muito menos de eventos dançantes e tampouco dançava! Já eu vivia tentando daqui e dali copiar e inventar coreografias. A sentença-bomba simplesmente fez rachar meu palco e eu cai no vão da "sem-jeito-dura", por extensão. 

Com mil tchu tchus! Por que motivos nossa querida mãezinha resolveu professar tão destrutiva comparação? Qual foi o desejo materno que resolveu romper esse silêncio tão necessário para não se promover uma impossibilidade, uma limitação? 

Não me esqueço daquele dia e da sensação de incapacidade que me lançou, por anos, para "o sótão" dos meus pensamentos autodestrutivos feito uma Cinderella presa em seus trapos, insegura quanto poder ir ao baile. 

A sorte é que a fada-madrinha do meu desejo impulsivo, incontido, dançante colocava asas nos meus pés em qualquer festa. No entanto, aquela frase ressoou por muito tempo trincando meus sapatinhos de cristal. Tropecei aqui e ali. Não desisti e, finalmente, fiquei descalça. Agora eu rodopio, ondulo os quadris, serpentino os ombros e flutuo em qualquer estrado. Sem sentença. Minha mãe e meu irmão não dançam. Nem cantam. Não direi isso a eles. 

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