Férias, pero no mucho



Em, 19.1.2011
Por  Pietra Luña



No meio de tanta confusão e ausência, recebi simpáticos e-mails e comentários neste blog. Alguns certamente serão motivo de postagens (já comecei a selecionar) e outros são estímulo para eu continuar deslocando um tempo do meu tempo para escrever aqui. Sem outrossim, trago outro fato mais que interessante (durante a pausa forçada): ouvir meus amigos e pessoas por ai falarem das férias. 

Simone é com certeza a minha amiga mais sincera sobre seus dramas pessoais, principalmente, quanto à maternidade. Foi ela quem me disse pela primeira vez que ser mãe era muito mais inferno do que paraíso. "Dona" de duas crianças (12 e 6), ela já me confessou vários pecados, blasfêmias, crises e pensamentos quase impublicáveis. Ela é do tipo que entende perfeitamente mães que jogam filhos em lagoas, pela janela, pelo muro e outras jogadas que não somente as mães desesperadas, misses surtadas, diante de um filho (?), conseguem fazer. Ela ama os filhos, mas tem noção de realidade e "não abafa o caso, dando uma de politicamente correta".

Eu também tenho prole e bem sei como amar e cuidar  de crianças, educar e exercer o tal papel materno fazem parte de um complexo quase insano, quando se pretende ter vida além do útero. Algumas mulheres dizem que "nasceram" para ser mães, em outras a porção mãe não nasce nem quando os filhos já são pais e, atualmente, grande parte das mulheres nasce para ser mulher e profissional. 

Sei também que tem gente que desempenha melhor, com mais conforto, ser mãe/pai de bebês ou de crianças, já outros têm mais afinidades com adolescentes ou jovens adultos. Temo que Simone seja melhor mãe de idosos. Brincadeira à parte, quando ela me ligou na segunda-feira havia mais do que um tom de desalento em seu desabafo. "Amiga, vou enlouquecer. As crianças estão em férias, a empregada também e eu voltei a trabalhar hoje. O que faço?" Sem respirar continuou, "você se lembra que nesses últimos 15 dias, andei muito por essas ruas de Brasília, fiquei inventando programas, colônia de férias, cinemas, lanche em shoppings, parques e fiquei  exausta morta do dia à noite?  E agora? Tenho que trabalhar e...". Desabou a chorar. 

Do outro lado da linha, eu não sabia exatamente o que lhe dizer. E no que eu disse "calma", ela vociferou: "Amiga, odeio férias! Odeio férias! Quero minha rotina de volta! Estou loucaaaaaaaaaaaaaa! Quero acordar levar as crianças na escola, trabalhar, voltar, fazer um cafuné e ler meus livros em paz. Odeioooooooooo fériasssssssssss! Quero louça limpa na pia! Quero comida quente na mesa! Quero banheiro lavado e criança de banho tomado! Quero minha rotina de volta! Rotinaaaaaaaaaaaaaaaa! Quero que essas férias escolares acabem já! %¨*$#@%" 

Foi quase a primeira vez que ouvi alguém implorar por rotina e assassinar as férias no meio em nome da lucidez emocional. Olhei no calendário e descobri que as aulas começam no dia 7 de fevereiro.  Simone ainda terá que aguentar sua não-rotina por 18 dias. Na dúvida, passei-lhe o telefone do meu psiquiatra cubano para que ela explique que férias são boas, mas pero no mucho!

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