Em, 26.1.2011
Por Pietra Luña
Os dias de folga se vão e Brasília retoma lentamente seu caos. Eu sempre percebo que a rotina da cidade está plena quando o médio estacionamento de onde faço terapia volta a ficar sem vagas, as asas ficam congestionadas e ir ao parque significa cortar caminho.
Enquanto eu procurava um lugar para estacionar o meu carro, já no limite do ponteiro (terapia se paga por tempo e não é bom atrasar), observando o sobe e desce de gente naquele prédio, onde se tem centenas de consultórios de psicologia, psicanalistas e terapias variadas, lembrei das portas erradas que a gente às vezes bate.
Quando algo está na moda, muita gente corre para experimentar. Seja um bar, um vestido, um tênis, um carro, uma fruta, uma música, um comportamento; seja para se parecer com os outros, ter poder, se sentir aceito, contar aos amigos etc e ficar em evidência se torna uma busca. Parece que o ser humano tem uma tentação por imitar, ser igual, formar tribos.
Até pouco tempo, quem fazia psicoterapia (ou terapia, análise - presencial ou online) era muito estigmatizado e ir ao psiquiatra então... Coisa de maluco, gente fraca, gente fresca, gente sem ter o que fazer, gente problemática, gente... gente gente. Ainda se vê na cara dos mais preconceituosos e mais insensíveis no trato com os sentimentos e emoções aquele ar de "nossa você precisa de terapia? Espero nunca precisar disso". Até que essa mesma pessoa aparece com um transtorno qualquer ou uma crise de pânico e pede ao ENDOCRINOLOGISTA que lhe dê um remedinho para os sintomas nervosos sumirem.
Sinceramente, não acho que terapia seja a única forma de auxílio para tentarmos sair da angústia, tristeza, situações de estresse etc. Entender o que se passa internamente é fundamental para que uma nova visão de mundo habite naquele que sofre. Tem gente que consegue isso sozinho. Tem gente que se utiliza das artes nessa busca de autoconhecimento. Tem gente que usa drogas para fugir de tudo isso. Tem gente que oprime por pensar que não precisa de nada e de nem de ninguém. Têm mil portas para se entrar nessa vida. (Principalmente, a do humor!)
A procura do entendimento sobre si mesmo, não é de todos. Assim como, entrar na moda e usar as ridículas calças saruel ou os breguissimos vestidos drapeados, não é para todos. Mas em ambos exemplos é preciso coragem e cuidado. Da mesma forma que nem toda terapia é honesta e lhe ajuda, nem toda roupa lhe cai bem. Tem muito terapeuta por ai tentando enquadrar seus clientes como se houvesse uma única medida para "ser", do mesmo jeito que existe muito estilista de um desenho só.
Dez minutos depois, consegui uma vaga. Suada e desanimada com a volta do caos, que ainda pode piorar com a volta das aulas (o prédio fica perto de escolas), subi. Enquanto o elevador se deslocava do térreo ao último andar, viajei no meu desejo de não abrir mais tantas portas erradas quanto o fiz no passado. Mas o que fazer com a danada curiosiodade? Eita substância inquieta que me faz meter as mãos em qualquer maçaneta! Do outro lado do portal há surpresas e não consigo evitá-las, sobretudo porque não consigo evitar-me. Sem muito enquadramento ou medida, sigo apertando botões de elevadores, abrindo portas e trocando de roupas. E, assim, vou vivendo sem muitos estacionamentos.
Já leu "Dibs e Busca de Si mesmo"?
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