Pessoas self-service x pessoas à la carte



Em, 23.1.2011
Por  Pietra Luña


Como eu não queria nada nas ruas de Brasília, minha amiga Solange veio me visitar. Passou a tarde me contando como foi  o réveillon. De tão divertida que ela é, tive cãibras (palavra estranha!) de tanto rir da sua indignação misturada com desespero. O saldo é que o evento foi terapêutico (novidade zero em se tratando da Sol que transforma pingos de chuva em terapia "e" teoria). Ela descobriu que existem pessoas self-service e outras à la carte. Estranhou? Eu também.

Segundo ela, o disputado bar Garota Carioca cobrou um preço à la carte por um serviço self-service. Ou seja, caro demais para o insatisfatório, ralo e tumultuado programa que ofereceram. O lugar abarrotado de gente serviu uma comida insuficiente para os famintos espectadores da virada 2010-2011. O espumante espumou de raiva quem por ele esperou. Garçons? Quem te viu quem te vê ninguém via. E quando ela foi reclamar com os "promoters da festenha" (isso depois de ter sido expulsa, pelos seguranças de terno preto e fones de ouvido estilo MP3, de um bate-papo com o pessoal da cozinha para tentar entender a incompetência e quem era o irresponsável pela situação), ouviu da jovem despreparada morena de branco que mais azarava a banda do que verificava o nível da feste-eca,  um sonoro "não tenho nada a ver com isso". Organização de quinta categoria e com muitas testemunhas. 

O jeito, disse ela, "foi beber qualquer coisa, fazer uma mistureba com os restos das bebidas que foram recusadas desde o início, sacodir o esqueleto como quem está achando tudo ótimo e não entrar o ano no Procon ou na delegacia".  E então eu perguntei, mas e qual foi a terapia? Ela respondeu:

- Amigaaaaa! Sou uma pessoa "a la carte"! Eu quero atendimento ISO-VIP. Escolher, ser servida, sentar-me em um  ambiente com ar condicionado, ver gente bonita, bater um bom papo e, se for muita a animação, ir à pista de dança. Sem pressão e sem gente caindo em cima de mim ou pisando no meu pé. Quero andar sem esbarrar no suor alheio e sem tomar banho de cerveja quente. Quero qualidade e não quantidade. Pessoas por quilo me incomodam. Essa coisa de restolho, bandeijão e comida fria ficou para quando eu tinha 20 e poucos anos. Agora? 

Já sei, amiga, agora você quer ser um indivíduo diferenciado da cultura de massa e usar o seu dinheiro para o que ele bem deve servir: viver confortavelmente. Sem fila. Sem tumulto. Sem avança. Sei bem como é, porque eu também sou assim e de balança eu passo longe. De massa também. Bem longe. Mas conheço um monte de gente que pensa, vive e age por quilo; uma galerinha self service que nem vale o quanto pesa. 


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