Encontro desencontrado leva a encontro encontrado


Em, 31.1.2011
Por  Pietra Luña

Tinha um encontro hoje à noite. Pouca vontade de sair de casa, mas o compromisso me ordenou. Lá fui eu pilotar uns 25 km para não encontrar ninguém. Putz! Levei uma pernada e sobrei no tempo que livre ficou. Só que uma rasteira noturna nunca é suficiente para me nocautear. O calor de Brasília está insuportável e já por isso eu não merecia voltar pra casa, além do mais eu estava toda arrumada. Olhei os ponteiros e as 21h se aproximavam. Hum! Ataquei imediatamente o meu cardápio de prazeres e fiquei na dúvida entre as opções 22 e 32. 

Rumei ao Parkshopping. No meio daquele tanto de tapumes me senti perdida (já viram como lá está mudado? Grande demais!). Entrei logo pelos cinemas da rede Severiano Ribeiro- Kinoplex- (nunca tinha ouvido falar hehehe). Os paineis indicavam que ainda estamos em época de férias infanto-juvenis. Só filme que não me atraia. Porém, pensei: Oh! Pietra tanto tempo sem ir ao cinema... insiste em algum ai vai... Tá bom! A escolhida foi a comédia-dramática-romântica "Amor e outras drogas".

Quando chego no caixa sou surpreendida com "moça, o ingresso custa 35 reais, porque é na sala platinum". Fizemos um rápido bate-bola - Eu: ahn?!?!? Ela: É, sala especial. Eu: O que tem lá? Ela: Cadeiras reclináveis. Eu: Hum...Quero! 

Eu estava ali, afinal, por prazer não é mesmo? Nada como experimentar um lugar nunca ido antes. A breve ansiedade de romper, com os olhos curiosos, o novo e, depois, esmiuçar cada pedaço do instante ao tentar entender como é isso, como funciona aquilo, que gosto tem, que cheiro. Comprei as pipocas, o refri, desliguei o celular e fui ser VIP por duas horas, sem filas, sem cabeças, sem empurra. 

Adorei! Vale cada centavo. A poltrona é excelente, me senti em casa de tão confortável sobre aquelas espreguiçadeira de couro (ecológico, dizem) azul, macia e longa. Tirei os sapatos, apoiei os comes e bebes na mesinha de madeira clara, sorri por dentro e me agradeci pela oportunidade de perceber que um encontro desencontrado sempre pode levar a outro encontro encontrado (ahahahah). 

E, o filme? Rendeu boas gargalhadas, fez uma excelente crítica ao mercado médico-farmacêutico, cumpriu o papel de reafirmar o amor idealizado e romantizado pela mídia e deu um recadinho sobre "vazios, cuidados e reciprocidade". Pelo conjunto da obra, minha noite foi nota dez.

Cardápio de pequenos prazeres (que tornam a vida grande)

clique na imagem e veja o movimento do sol


É preciso ser criativo para fazer o sol se mover na palma da mão


Em, 30.1.2011
Por  Pietra Luña


Está vivo quem  acorda todos os dias. Fato! E quem tem um dia inteiro para viver pode preenchê-lo de várias maneiras. Há quem preencha grande parte de suas horas com o trabalho. Eu mesma quando era solteira e sem filhos era uma workaholic praticamente confessa, porque depois dos 20 me vi mais preguiçosa e a energia que sobrava era para o trabalho. Aliás, para ficar no ambiente de trabalho (eu saía beemm tarde da seção). 

Claro que eu sempre buscava uma forma de enfiar, na jornada, minha dose de prazeres extralabor, por exemplo com muita internet (e-mails, leitura de blogs, jogos, chats). O que me leva a crer que eu era mesmo uma viciada em satisfazer e criar minhas curiosidades (pecado -?-) mais do que em trabalho. Sempre fui mesmo muito criativa e inquieta. Observadora e destemida. Ora falante, ora acuada. E, sobretudo, uma ouvinte e contadora de histórias (ou "causos", biografias, fofocas e similares). 

A narrativa é um encanto que tento desvendar há muito e o exercício do pensar me dá muito prazer. Fazer do meu tempo algo bom de ser vivido é, talvez, meu maior talento. Ou pelo menos contar de forma muito interessante os meus piores dias e momentos. Narrar. Fazer com que cada momento seja realmente especial, inesquecível, intenso. Raro. Essa é a minha busca diária ainda que, por vezes, inconsciente. Tenho um vício em prazer e querer ser feliz. E, contar tudo isso, óbvio! 

Neste domingo ensolarado, quente, vazio (sem obrigações externas) acordei ao meio-dia e pensei: o que vou fazer do restante dessas horas domingueiras? Eram tantas as opções que podia escolher mais do que uma. Foi quando tive a ideia de fazer um cardápio de pequenos (grandes?) prazeres para começar a tarde. Listei prazeres de rápida duração, de longa, alguns mais caros, outros mais baratos, para se fazer sozinha, para se curtir acompanhada, prazeres simples, outros bem sofisticados, enfim, prazeres variados destinados a um ser vivente que não perde tempo nem quando dorme

Ei-la (a ordem dos fatores não altera o conjunto! hehehe): 1. Dormir; 2. Ir ao restaurante preferido; 3. Conhecer um novo restaurante e um prato exótico; 4. Tomar banho de espuma; 5. Ler jornais/revistas em um café; 6. Levar seu autor preferido para ser lido em um lugar maneiro; 7. Transar; 8. Masturbar; 9. Falar ao telefone por horas com uma amiga legal; 10. Sair com as amigas para o shopping; 11. Ligar para alguém que há muito tempo não vê e tem saudades; 12. Ir ao clube pegar um sol; 13. Tomar umas cervejinhas beeemm geladas; 14. Alugar alguns DVDs e passar a tarde comendo pipoca no sofá; 15. Ir a uma exposição de artes; 16. Desenhar ao ar livre; 17. Jogar baralho etc.; 18. Papear na internet; 19.  Dançar; 20. Tomar sorvete; 21. Dar uma volta de carro para observar as ruas e o movimento da cidade; 22. Ir ao cinema naquele filme que está saindo de cartaz; 23. Caminhar no parque; 24. Bater seu recorde no game preferido; 25. Visitar uma pessoa muito querida; 26. Escrever um conto; 27. Dar uma repaginada no blog; 28. Fotografar; 29. Ouvir músicas sem parar; 30. Rever os álbuns de fotos; 31. Reler cartas e guardados; 32. Ver as novidades na livraria; 33. Cozinhar algo diferente; 34. Ficar à toa sem fazer absolutamente nada; 35. Meditar; 36. Navegar perdido na internet; 37. Planejar uma viagem; 38. Sonhar acordada; 39. Fazer bijouteria, crochê, tricô etc. 40. Fazer uma lista de qualquer coisa; 41. Blogar; 42....

Sinceramente? Eu sou feliz por ter mais prazeres do que horas por dia e são eles que tornam minha vida grandiosa; cheia de novidades e movimento. E, você? O que lhe dá prazer?


Lema: optando por quadras vazias




Em, 29.1.2011
Por  Pietra Luña


Quem lê este blog sabe da minha birra com estacionamentos lotados e sem vagas suficientes para um passeio tranquilo. Outro dia escrevi sobre pessoas que adoram filas, galera e similares (diferentemente de mim) e neste sábado percebi que além de rodízios e buffets serem tão complicados quanto os self-services, a localização pode ser um problemaço. 

A noite de hoje pedia um restaurante japonês, confortável, agradável, pouco barulhento e perto de casa. Queria um jantar gostoso e com meus pratos preferidos: shimeji, sashimi de salmão, nirá e hot filadelfia com molho teryaki. Ah, desde que eu não precisasse enfrentar filas e congestionamentos. :) 

Dirigimos à Asa Sul em busca de um sushi para beliscar. Cada tesourinha rodada, uma fila de carros engarrafando as duzentos e as quatrocentos. Inferno! Ruas cheias, bares lotados, filas na porta. Fora! Sim, eu estava de fora e fora de querer entrar! Nessas horas quase me dá vontade de optar por McDonalds. Amo um drive-thru. Mas só de pensar num peixinho mergulhando do shõyu para minha boca, o desejo ia crescendo tantos quanto a minha vontade de buzinar e passar por cima dos carros lerdos desfilando pelas comerciais. 

Quase desistindo da aventura gastronômica  resgatei um restaurante que fica na 203sul (quadra, praticamente, deserta à noite). Subimos a escadaria e a conversaria interna estava nas alturas. Era noite de buffet, porém ainda restavam umas três ou quatro mesas vazias e muitas vagas em frente à loja Cult Vídeo, já fechada àquela hora. Comemos, comemos, comemos. E saímos com certeza de que queremos cada vez mais encher a barriga em quadras vazias. Ah, deixo um beijo especial de peixe cru para Lúcio Costa e outro para o Oscar Niemeyer que não ficaram aqui para ver a cidade "planejada" em funcionamento, com seus prédios brancos, sem vagas e sem luz... 

A balada da quinta se salva no Calaf



Em, 28.1.2011
Por  Pietra Luña


Sempre que as amigas solteiras me ligam para sair na quinta-feira penso: estarei destruída na sexta! Essas baladeiras brasilienses adoram dançar e beber (umas mais isso e outras mais aquilo). Ir assistir à banda Salve no Calaf é uma das programações bombadas no meio da semana, para quem curte MPB. Agora, estou aqui ressaqueada relembrando a noite maara! Até amanhã! Fui!





Fimose na praça da alimentação


Em, 27.1.2011
Por  Pietra Luña


Enquanto esperava a senha piscar no letreiro da praça da alimentação do Brasília Shopping pesquei o seguinte diálogo na "redondeza":

- Véi, tá foda arranjar homem gostoso na balada. Se não é galo, é feio ou ... (não entendi a terceira categoria)
- Tá mesmo, mas você não tava chegada naquele maconheiro da florestal?
- Nem tanto, gostei mais da pedra do que do bagulhão. Saímos duas vezes só.
- Hum, por que?
- Cara, ele tinha uma pele escrota no pinto.
- Como assim?
- Uma coisa meio nojenta. 
- Fala...
- Sabe aquelas peles que alguns homens têm? Acho que se chama fimose... A dele cobria tudo. Era um pau sem cabeça. Dai no que eu fui pegar, tive que ir puxando, puxando, puxando, parecia um vestido longo! E o pior era perto da cabeça...
- O que?
- Sujeira.
- Eca.
- Então eu falei pra ele.
- Falou o que?
- Ah, que aquela pelanca era broxante.
- E ai?

A senha 546 apitou no restaurante. Fui buscar minha bandeja, enquanto pensava na situação narrada e nas raras vezes em que me deparei com algo semelhante. Sábios, nesse caso, são os judeus! Eu apoio a circuncisão nos meninos desde bebezinhos. E tem muito homem que nem se dá conta do quanto um pênis se modifica (para melhor) a partir de alguns cuidados, sem contar a obrigatória higiene! Isso pode diminuir uma possível DR com sua  ficante! 


Terapias, enquadramentos e medidas: vida de mil portas



Em, 26.1.2011
Por  Pietra Luña



Os dias de folga se vão e Brasília retoma lentamente seu caos. Eu sempre percebo que a rotina da cidade está plena quando o médio estacionamento de onde faço terapia volta a ficar sem vagas, as asas ficam congestionadas e ir ao parque significa cortar caminho. 

Enquanto eu procurava um lugar para estacionar o meu carro, já no limite do ponteiro (terapia se paga por tempo e não é bom atrasar), observando o sobe e desce de gente naquele prédio, onde se tem centenas de consultórios de psicologia, psicanalistas e terapias variadas, lembrei das portas erradas que a gente às vezes bate.

Quando algo está na moda, muita gente corre para experimentar. Seja um bar, um vestido, um tênis, um carro, uma fruta, uma música, um comportamento; seja para se parecer com os outros, ter poder, se sentir aceito, contar aos amigos etc e ficar em evidência se torna uma busca.  Parece que o ser humano tem uma tentação por imitar, ser igual, formar tribos. 

Até pouco tempo, quem fazia psicoterapia (ou terapia, análise - presencial ou online) era muito estigmatizado e ir ao psiquiatra então... Coisa de maluco, gente fraca, gente fresca, gente sem ter o que fazer, gente problemática, gente... gente gente. Ainda se vê na cara dos mais preconceituosos e mais insensíveis no trato com os sentimentos e emoções aquele ar de "nossa você precisa de terapia? Espero nunca precisar disso". Até que essa mesma pessoa aparece com um transtorno qualquer ou uma crise de pânico e pede ao ENDOCRINOLOGISTA que lhe dê um remedinho para os sintomas nervosos sumirem. 

Sinceramente, não acho que terapia seja a única forma de auxílio para tentarmos sair da angústia, tristeza, situações de estresse etc. Entender o que se passa internamente é fundamental para que uma nova visão de mundo habite naquele que sofre. Tem gente que consegue isso sozinho. Tem gente que se utiliza das artes nessa busca de autoconhecimento. Tem gente que usa drogas para fugir de tudo isso. Tem gente que oprime por pensar que não precisa de nada e de nem de ninguém. Têm mil portas para se entrar nessa vida. (Principalmente, a do humor!)

A procura do entendimento sobre si mesmo, não é de todos. Assim como, entrar na moda e usar as ridículas calças saruel ou os breguissimos vestidos drapeados, não é para todos. Mas em ambos exemplos é preciso coragem e cuidado. Da mesma forma que nem toda terapia é honesta e lhe ajuda, nem toda roupa lhe cai bem. Tem muito terapeuta por ai tentando enquadrar seus clientes como se houvesse uma única medida para "ser", do mesmo jeito que existe muito estilista de um desenho só. 

Dez minutos depois, consegui uma vaga. Suada e desanimada com a volta do caos, que ainda pode piorar com a volta das aulas (o prédio fica perto de escolas), subi. Enquanto o elevador se deslocava do térreo ao último andar, viajei no meu desejo de não abrir mais tantas portas erradas quanto o fiz no passado. Mas o que fazer com a danada curiosiodade? Eita substância inquieta que me faz meter as mãos em qualquer maçaneta! Do outro lado do portal há surpresas e não consigo evitá-las, sobretudo porque não consigo evitar-me. Sem muito enquadramento ou medida, sigo apertando botões de elevadores, abrindo portas e trocando de roupas. E, assim, vou vivendo sem muitos estacionamentos.


Pra que chorar? "Tears dry on their own"



Em, 25.1.2011
Por  Pietra Luña



Dando uma volta pela quadra vi uma garotinha (três anos, talvez) esgoelando-se no melhor estilo Edson Cordeiro. Alguma insatisfação a debulhou. Imediatamente, remeti-me ao passado e tentei recordar das minhas lágrimas. Conta a lenda (porque tudo que dizem sobre nós é praticamente uma lenda, quando os narradores são da família. Mães, principalmente!), que eu era uma menina chorona, exagerada e dramática (?!); características que atualmente reúno em mim como "intensa". 

Pois bem, já que a história "me revela" com tons tão fortes, fui procurar na memória alguma cena de desespero ostensivo. Resultado? Não achei. Lembro-me bem das dores caladas, dos choros engolidos, das mágoas retidas. Claro que eu devo ter feito berreiros, mas não registrei. Ao contrário, quando olho a infância não vejo quase nada. São poucos os rastros e são desbotados; o que não significa inexistentes no tempo das coisas, porém desaparecidos do tempo das emoções. 

Aquele buaaaaaá estendido, agudo e irritante (detesto choro esganiçado) mobilizou tantas sensações, que meu pensamento não conseguia se desviar do "ato de chorar". Quantas vezes escuto as terríveis frases "engula o choro", "homem não chora", "mulheres são choronas". Assim como, conhecemos tão bem as "lágrimas de crocodilo". No entanto, chorar faz bem à saúde e, cumprindo suas funções,  acalma e comunica. Alivia a angústia e libera a tensão.  Chantageia também. 

Pensando bem, as lágrimas são recursos mais do que simplesmente orgânicos, pois são culturais e se bem utilizadas se transformam em excelentes ferramentas dos astutos para praticarem suas manipulações e trocas. Curiosamente, durante a madrugada Maurício do BBB11 falou sobre o desespero que leva às lágrimas. Disse algo do tipo "estou sentindo aquela dor igual a da criança que chora convulsivamente quando pensa que o pai a esqueceu na escola ou quando a gente leva um fora da namorada e o chão se abre sem você ter ideia do amanhã". Ele dizia que já teve esses choros desesperados. Eu, também, por outros motivos. Ele hoje está no paredão. Eu, também, por outras prensas. Será que ele vai chorar? Eu não, porque na virada dos 40 estou mais para a Amy Whinehouse, com suas lágrimas secas. Ao longe, ainda ouço a voz da menininha ecoando por sua juventude. 






"Chororô, chororô, chororô
É muita água, é mágoa
É jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se afogar"
Gilberto Gil

Vida fast, vida foda



Em, 24.1.2011
Por  Pietra Luña


Patrícia (que sonha ser a "cara da riqueza") veio em plena segundona com mais um de seus programas over capitalistas. Mais uma vez fui parar no tal Iguatami que fica láaaaaa longeeeeeee de mim. Ela queria me mostrar sua última aquisição de 2 mil reais (tema para outro post) e no caminho da loja paramos para um programinha gastronômico "a cara da pobreza": fast food

Nem vou reclamar muito não. O tal Gendai tem uma comida honesta, com um preço até aceitável. Pedimos um monte de coisas e pagamos umas 50 pilas. Contudo (oh! vida de conjunções adversativas por conta desta vida adversa), o atendimento... (vez das interjeições!) ui ui! Péssimo! A menina do caixa era ótima, mas as ajudantes completamente despreparadas e antipáticas! 

É incrível como as pessoas que não gostam de público atendem público e como os empresários abrem negócios de produtos e serviços sem escolher treinar adequadamente seus funcionários. Tudo errado. O almoço acaba ficando tosco e caro. Ainda bem que eu amo salmão cru, senão eu ia mandar da guria tomar saquê! 

Pessoas self-service x pessoas à la carte



Em, 23.1.2011
Por  Pietra Luña


Como eu não queria nada nas ruas de Brasília, minha amiga Solange veio me visitar. Passou a tarde me contando como foi  o réveillon. De tão divertida que ela é, tive cãibras (palavra estranha!) de tanto rir da sua indignação misturada com desespero. O saldo é que o evento foi terapêutico (novidade zero em se tratando da Sol que transforma pingos de chuva em terapia "e" teoria). Ela descobriu que existem pessoas self-service e outras à la carte. Estranhou? Eu também.

Segundo ela, o disputado bar Garota Carioca cobrou um preço à la carte por um serviço self-service. Ou seja, caro demais para o insatisfatório, ralo e tumultuado programa que ofereceram. O lugar abarrotado de gente serviu uma comida insuficiente para os famintos espectadores da virada 2010-2011. O espumante espumou de raiva quem por ele esperou. Garçons? Quem te viu quem te vê ninguém via. E quando ela foi reclamar com os "promoters da festenha" (isso depois de ter sido expulsa, pelos seguranças de terno preto e fones de ouvido estilo MP3, de um bate-papo com o pessoal da cozinha para tentar entender a incompetência e quem era o irresponsável pela situação), ouviu da jovem despreparada morena de branco que mais azarava a banda do que verificava o nível da feste-eca,  um sonoro "não tenho nada a ver com isso". Organização de quinta categoria e com muitas testemunhas. 

O jeito, disse ela, "foi beber qualquer coisa, fazer uma mistureba com os restos das bebidas que foram recusadas desde o início, sacodir o esqueleto como quem está achando tudo ótimo e não entrar o ano no Procon ou na delegacia".  E então eu perguntei, mas e qual foi a terapia? Ela respondeu:

- Amigaaaaa! Sou uma pessoa "a la carte"! Eu quero atendimento ISO-VIP. Escolher, ser servida, sentar-me em um  ambiente com ar condicionado, ver gente bonita, bater um bom papo e, se for muita a animação, ir à pista de dança. Sem pressão e sem gente caindo em cima de mim ou pisando no meu pé. Quero andar sem esbarrar no suor alheio e sem tomar banho de cerveja quente. Quero qualidade e não quantidade. Pessoas por quilo me incomodam. Essa coisa de restolho, bandeijão e comida fria ficou para quando eu tinha 20 e poucos anos. Agora? 

Já sei, amiga, agora você quer ser um indivíduo diferenciado da cultura de massa e usar o seu dinheiro para o que ele bem deve servir: viver confortavelmente. Sem fila. Sem tumulto. Sem avança. Sei bem como é, porque eu também sou assim e de balança eu passo longe. De massa também. Bem longe. Mas conheço um monte de gente que pensa, vive e age por quilo; uma galerinha self service que nem vale o quanto pesa. 


Expand: vinho com estilo



Em, 22.1.2011
Por  Pietra Luña



Nesse sabadão, fui dar um rolé na cidade. Aqui em Brasília, para os baladeiros, é  mais dia de festa e de boate do que de bares (mais lotados às 5as e 6as-feiras). Eu, como sou de outra "vibe", prefiro lugares mais calmos e belos (leia-se: com outros valores agregados). Ainda sou movida pela percepção e suas experiências. 

Nessa de buscar novidades, rodamos as asas. Paramos no final da movimentada rua do Gate´s Pub por causa da linda e imensa porta de madeira escura, ao lado da vitrine de garrafas, que havia pendurado uma placa "aberto" em vermelho. Parecia uma "boutique do vinho". Mesmo adorando um tinto e seco, preferencialmente, eu ainda não conhecia a adega Expand, na esquina da 403 sul. Aprovamos.

O lugar é confortável, bonito, alto nível, com ambientes interno e externo, equipe educada e bem treinada, serviço de qualidade, vinhos e petiscos para todos os bolsos de bom gosto (acima de três dígitos a conta final). 

Tomamos um sul-africano de uvas shiraz, beliscamos um brie com mel e pãezinhos diversos. Para fechar a TPM, brigadeiros em três versões: tapioca, chocolate belga e coco queimado. Uma orgia de sabores para minhas papilas gustativas aplainarem meus ânimos hormonais. Foi uma deliciosa noite à luz da lua cheia com  gosto de Baco! 

Homines peludos, homines pelados



Em, 21.1.2011
Por  Pietra Luña

Hoje tive uma hilariante tarde no cabeleireiro. Depois de tentar uns três salões de beleza, lotados (sexta-feira?), caros e com nomes estapafúrdios (confira a criatividade aqui), finalmente cheguei a um lugar meia boca para cortar meus cabelos sem hora marcada. 

Chegando lá, fui esperar minha vez olhando aquelas revistas amarrotadas, semirrasgadas e antigas. Quem pra cá, Caras pra lá, Contigo acolá, fui passando o tempo até que a conversa da cliente vizinha com a manicure me pegou com a manchete "minha perereca está cheia de pentelhos brancos, estou desesperada". Imediatamente minha cabeça disparou em sua direção. Inevitavelmente, eu ri por dentro.

Era uma mulher de 30, ou um pouco mais, tingida de louro xuxa, bronzeada ao tom "celebridades" e vestida do tipo bazar das peruas. O papo foi aprofundando. "Nossa, quando eu descobri o primeiro fiquei maluca e arranquei com a pinça. Mas agora são tantos que estou pensando em depilação definitiva, pois não posso conceber alguém dando de cara com eles na hora... você sabe". 

Lembrei-me de ter lido em algum lugar que a depilação a laser, por exemplo, não pegava em cabelos claros, quem dirá brancos. Mesmo sem ter certeza, enxerida que sou, resolvi falar com a moça de xoxota grisalha que talvez ela fosse se frustrar na empreitada. 

Ela arregalou os olhos e disse quase gritando entre os esmaltes e secadores: "Não! Não é possível! Naaaão! Estou arruinada!". Juro que parecia alguém tendo a pior notícia familiar, pessoal, profissional equivalente a  falência ou morte.

Nessa hora, a manicure arrancou-lhe um bife (com a puxada de mão que "'vaidosa em fase de envelhecimento pubiano" deu) e soltou a pérola, depois do pedido de desculpas: "Ah, boba, não liga não. Pior é ter câncer e ficar careca. A Hebe disse na TV que até a perseguida fica sem pelos. Então, vai fazer quimioterapia que o seu problema resolve". 

Estava armado o circo. O salão tomou conta do assunto e a cabeleireira do outro lado perguntou se ela já estava com brancos nas sobrancelhas, também, e no nariz. Eu tive um ataque de risos com a cara de pavor que a jovem esboçou com o seu "creeeedoooooooooooo, tá doidaaaaa?", ao que foi retrucada pela senhora do lado direito com um "que é isso menina, eu já tenho faz tempo, olha aqui, olha" apontando para o buço, orelhas etc. A partir dai cada mulher tinha um pentelho branco para atirar. 

Na volta para casa, depois de dar meus pesares e desejar boa sorte à moçoila estressada, fui imaginando como envelhecer pode ser difícil para algumas pessoas e como a moda aprisiona alguns seres. Pelos (o acento caiu e me faz falta, viu!) à parte, fui tentando me lembrar quando começou essa moda de depilação ao estilo filme pornô e do novo conceito "pelos nunca mais" para homens e mulheres (algo que já ultrapassa quatro milênios).  Recordei as críticas às coelhinhas Claudia Ohana e Fernanda Young por causa da quantidade de pelos na Playboy. 

Babaquices e ditaduras para longe daqui (cada um com seus pentelhos como bem entender, de preferência sem paranóias para viver melhor), fiquei com a porcaria dos cabelos brancos nas ideias, com a dúvida: por que brancos não morrem no laser

Em uma rápida navegada achei um blog que confirma essa informação dizendo que "a restrição está nas características dos pelos de cada pessoa, porque o laser não tem eficácia em pelos brancos, loiros, ruivos ou em pelos muito finos (penugem), pois estes tipos de pelos apresentam pouca melanina (pigmento que dá cor aos pelos e atrai laser até o folículo piloso)". Apesar de não ser uma fonte segura, acho que faz sentido. 

Ah, tá. E os homens, será que eles também têm essa preocupação com a "mata peniana"? Fiquei curiosa. 

Consumidor descartável joga dinheiro no lixo




Em, 20.1.2011
Por  Pietra Luña



Você já teve a sensação de rasgar dinheiro? Eu cada vez mais me sinto assim: largando grana no lixo! Sinceramente, eu não sei se é apenas uma sensação ou se estamos de fato jogando fora nosso suado dindin. Janeiro é um mês bão pra isso! Impostos, material escolar, cartão de crédito com ressaca de dezembro.

Antes, um aparte. Morar em Brasília requer uma capacidade de sobreviver no limite. Seja do cheque especial, seja da dignidade (sem a prática costumeira da locupletação, especulação e outros jeitos antiéticos de viver no Brasil), seja da lucidez surto (=desespero que sente o honesto ao chegarem as contas básicas de habitação, alimentação, educação, saúde, vestuário etc.). Eu, obviamente, junto os três e tomo com limão para ver se dá barato no fim do mês.

O alto custo de vida da cidade já virou um clichê entre aqueles que aqui moram. A gente sabe que se o sujeito não for um "concursado" público de um órgão que paga muitooo bem, terá grandes dificuldades em viver com qualidade de vida  (leia-se morar no Plano Piloto = morar perto do trabalho, não enfrentar um trânsito louco, colocar as duas crianças em escolas de alto nível, sair alguns fins de semana e viajar uma vez por ano à praia - isso para não exagerar muito, algo que um salário de 10 mil resolva mais ou menos). Então, se a sua cifra for inferior aos cinco dígitos, sua rotina será cada vez mais surtante, principalmente, para quem nasceu ou mora aqui desde o início da capital (tema para outro post). 

Voltando ao tema do dinheiro mal empregado, nos anos 60, 70 e 80 não era tão fácil consumir em Brasília. Não havia produção local, tudo praticamente vinha de fora e com preços abusivos (cidade nova, lei da oferta e da procura). O acesso a roupas, móveis, brinquedos, alimentos era tão difícil quanto percorrer a distância da nova capital federal até o polo sul-sudeste de fabricação/distribuição. Isso, talvez, tenha contribuído para que déssemos (pelo menos minha família) algum tipo de valor aos bens duráveis. Então, pagar tantos cruzeiros, cruzados, cruzados novos pelos objetos era um investimento para se ter quase a certeza de que aquele sofá xadrez de vermelho e preto duraria pelo menos uns 20 anos ou que aquela TV, finalmente, colorida serviria a mais duas gerações. 

Não havia ainda a lei do consumidor, parida nos anos 90 (criada por causa da livre concorrência e expansão dos mercados) para garantir isso e aquilo sobre entrega, fornecimento, propaganda enganosa e outros direitos daquele que compra. No entanto, o consumidor não era um ser tão descartável quanto agora. Ainda que sem lei de amparo, havia mais honestidade naquilo que se vendia, até porque as tecnologias eram mais limitadas, os produtos era em menor quantidade e variedade. Ou seja, o dinheiro mais das vezes valia o que se levava. 

Os produtos eram mais duráveis sim e, mesmo o custo sendo mais alto, sabia-se distinguir aqueles de primeira linha de outros de quinta. Era mais fácil saber se a roupa era de feira ou de boutique. Ninguém usava roupa da Fofi achando que vestia Company. Sempre houve pirataria, mas agora há putaria! Está tudo junto e misturado e não é programa (de humor), é de horror! 

Isso significa que uma carteira (ops! consumidor) ao entrar em uma loja devidamente maquiada (bonitona, feito gente-nova-velha-com-botox que a gente não sabe mais a idade, origem, sexo) sairá de lá nua e carregando sacolas mais fortes e duráveis do que os produtos que as integra. A haja garantia estendida (outra farsa, manobra dos anos 2000 para engabelar clientes, uma vez que já sabem vender porcarias), pois quem se estende, caído no chão, é o consumidor de tanto esperar, chorar, berrar e se F$%#$#. 

Enquanto a indústria eletrônica cresce 13% em 2011, você sabe quanto tempo durará (sem rachar) o botão giratório do seu liquidificador novo? Você tem ideia de quanto tempo o coller do seu nada barato notebook vai girar sem ficar histérico, rouco ou mudo? E, por fim, você tem noção de quantos chineses se matam duplamente (em horas de trabalho e suicídio) para fabricar o que a China exporta "competitivamente"? 

Segundo "minha nova teoria", os trabalhadores e consumidores valem muito menos dos que descartáveis que fabricam e compram e são mais descartáveis que os próprios descartáveis. Confuso? Aquele copinho de plástico que você usou na festinha de aniversário da sua prima irá sobreviver muito mais gerações de copos do que você, a diferença está nas lixeiras usadas e no processo de reciclagem. Creio que no ciclo da decomposição, se esqueceram de incluir o homem , pelo menos já incluíram na coleta seletiva a lixeira de cor marrom (para orgânicos) para depositarmos nossos corpos mortos de tanta luta para sobreviver com dignidade no meio de tanta enganação. 


Não sou boa na matemática, mas talvez eu consiga viver - "dignamente" segundo os direitos básicos da Constituição Federal  - com os 20 e poucos% que restam do meu salário, porque 40% eu já era privada jogava nos impostos e agora separei 35% (?) para jogar no lixo. Eles irão para: consertos dentro do possível de alguma duração futura; perdas injustificadas; tempo gasto em reclamações; perecíveis podres que ficam debaixo dos bons na caixinha; compras gato por lebre; canetas que pifam na terceira usada; lápis que acaba só de apontar; vestidos que se descosturam na primeira usada; blusinha que se deforma na primeira lavada; shampoo que não espuma; sapato que descola a sola do bico antes mesmo de uma chuva; DVD que treme no segundo filme; CD que não grava e mais; a porta de correr do armário que já emperrou no segundo dia; armário feito sob medida que não cabe na medida; eletricista que troca a fiação e ela continua dando problema; oficina mecânica que cobra mas não faz; e mais, muito mais. Acho o 35% serão poucos para tanta porcaria.



Férias, pero no mucho



Em, 19.1.2011
Por  Pietra Luña



No meio de tanta confusão e ausência, recebi simpáticos e-mails e comentários neste blog. Alguns certamente serão motivo de postagens (já comecei a selecionar) e outros são estímulo para eu continuar deslocando um tempo do meu tempo para escrever aqui. Sem outrossim, trago outro fato mais que interessante (durante a pausa forçada): ouvir meus amigos e pessoas por ai falarem das férias. 

Simone é com certeza a minha amiga mais sincera sobre seus dramas pessoais, principalmente, quanto à maternidade. Foi ela quem me disse pela primeira vez que ser mãe era muito mais inferno do que paraíso. "Dona" de duas crianças (12 e 6), ela já me confessou vários pecados, blasfêmias, crises e pensamentos quase impublicáveis. Ela é do tipo que entende perfeitamente mães que jogam filhos em lagoas, pela janela, pelo muro e outras jogadas que não somente as mães desesperadas, misses surtadas, diante de um filho (?), conseguem fazer. Ela ama os filhos, mas tem noção de realidade e "não abafa o caso, dando uma de politicamente correta".

Eu também tenho prole e bem sei como amar e cuidar  de crianças, educar e exercer o tal papel materno fazem parte de um complexo quase insano, quando se pretende ter vida além do útero. Algumas mulheres dizem que "nasceram" para ser mães, em outras a porção mãe não nasce nem quando os filhos já são pais e, atualmente, grande parte das mulheres nasce para ser mulher e profissional. 

Sei também que tem gente que desempenha melhor, com mais conforto, ser mãe/pai de bebês ou de crianças, já outros têm mais afinidades com adolescentes ou jovens adultos. Temo que Simone seja melhor mãe de idosos. Brincadeira à parte, quando ela me ligou na segunda-feira havia mais do que um tom de desalento em seu desabafo. "Amiga, vou enlouquecer. As crianças estão em férias, a empregada também e eu voltei a trabalhar hoje. O que faço?" Sem respirar continuou, "você se lembra que nesses últimos 15 dias, andei muito por essas ruas de Brasília, fiquei inventando programas, colônia de férias, cinemas, lanche em shoppings, parques e fiquei  exausta morta do dia à noite?  E agora? Tenho que trabalhar e...". Desabou a chorar. 

Do outro lado da linha, eu não sabia exatamente o que lhe dizer. E no que eu disse "calma", ela vociferou: "Amiga, odeio férias! Odeio férias! Quero minha rotina de volta! Estou loucaaaaaaaaaaaaaa! Quero acordar levar as crianças na escola, trabalhar, voltar, fazer um cafuné e ler meus livros em paz. Odeioooooooooo fériasssssssssss! Quero louça limpa na pia! Quero comida quente na mesa! Quero banheiro lavado e criança de banho tomado! Quero minha rotina de volta! Rotinaaaaaaaaaaaaaaaa! Quero que essas férias escolares acabem já! %¨*$#@%" 

Foi quase a primeira vez que ouvi alguém implorar por rotina e assassinar as férias no meio em nome da lucidez emocional. Olhei no calendário e descobri que as aulas começam no dia 7 de fevereiro.  Simone ainda terá que aguentar sua não-rotina por 18 dias. Na dúvida, passei-lhe o telefone do meu psiquiatra cubano para que ela explique que férias são boas, mas pero no mucho!

Dá uma geral, faz um bom defumador e chama a quiromante que eu tô voltando!



Em, 18.1.2011
Por  Pietra Luña


Oi, gente das ruas de Brasília!*

A pausa foi longa e não pausou. Causou. Vou itemizar para facilitar a compreensão: 1) Sabe quando você vai, porém fica? 2) Ou, quando você mal foi já voltou? 3) E, ainda, quando você nem foi e nem voltou, mas queria ter ido sem  volta? 4) Por último, quando você volta sem ter ido? Eu estou assim: zonza-zonza, "qui-nem" bicho de macumba em encruzilhada de pai de santo com fobia de sangue

Depois de uma pequenina viagem [caso 2], na qual mal descansei [caso 1], chego nessa chuventa (chuvosa + cinzenta) capital [caso 3] do JK e me acabo feito Frida cheia de feridas! [caso 4]. Assim não dá! Numa pancada só, arrebentei  meus mais importantes instrumentos de trabalho - a ilusão - as mãos, os olhos e a mente. 

O caso é seguinte, se eu já estava mesmo de cama, tendo que ficar quieta, podia pelo menos rabiscar em um caderno, uma vez que ficar em frente ao computador não dava de jeito nenhum. Porém, as mãos, meus "olhos iluminados" dispostos a escrever as peripécias de minha mente criativa, ficaram atadas em band-aids e curativos por causa de uma alergia inominada. Resultei imóvel dos pés às mãos. Oh, sina!

Então, eu, que já estava acamada pelas costas, sem poder me sentar ou me deitar alegremente (ao som da chuva ininterrupta) nos braços de algum deus grego, ainda que fosse Hipno (as mal amadas dores não deixam), encontrei com ELA (aquela que não se diz o nome) gigante e superproduzida! Ceguei, feito Édipo! 

ELA veio pulando feito carneiro de insone. Sem parar. Repetidamente, dia após dia. Pensei: minhas semi-férias (existe isso?) minguaram nessa dita lua nova-crescente! Fiquei mesmo cheia! Exausta. Sem pausa, ela se exibia. M-a-l-d-i-t-a! 

Não bastando as dores físicas, as outras vinham formar a patota. Eta panelinha da pesada, viu! Por causa DELA, vieram as minhocas subindo à cabeça, os medos afobando o peito, as sabotagens escorrendo pelos olhos, a loucura dando nó na garganta, a desilusão entupindo os ouvidos, a agonia circulando nas veias, a raiva socando o estômago, os arrependimentos desfilando nos slides mentais. 

Eu já não sabia distinguir qual imobilidade me deixava mais imóvel: as dores na coluna e nas pernas, as feridas na mãos ou ELA. Na dúvida, apelei para artes divinatórias como golpe lúdico de sobrevivência emocional. 

Rapidamente, convoquei um I Ching para as costas e pernas, um quiromante para as mãos e as runas para ELA. Os conselhos variaram desde casar a parar tudo, de transar a tornar-me celibatária, de fazer o Caminho de Compostela ao da Esplanada dos Ministérios. E não é que funcionou?

Fui lendo. Jogando. Lendo. Brincando. Lendo. Sentindo. Lendo. Embaralhando. Lendo. Navegando. Lendo. Pensando. E entre uma jogada e outra, vi o óbvio: meu corpo inérte e dolorido, sofrendo. Parado e lelé: lento, lerdo, letárgico, ex-libertino. Essa era a senha que ELA queria me mostrar. Essa era a resposta da minha esfinge: silêncio e retirada. Tempo de parar. Até que ELA foi legal em aparecer para me relembrar os velhos tempos alimentar-me de "o sal da terra" cantando a vida em harmonia. 

Finalizando, segundo os economistas, qualquer agrupamento econômico, como uma empresa (uma pessoa), por exemplo, só prospera se fechar seus ciclos de crescimento, que são formados por quatro etapas: expansão, recessão, depressão e recuperação. Minha conta bancária está no ciclo 2, enquanto rumo profissional está no ciclo 3, o corpo sempre no ciclo 1 e a cabeça... melhor deixar para lá. Em recuperação, está este blog.

beijitos!

PiLu

(*senti necessidade nesta postagem de me dirigir aos leitores, amigos invisíveis, que passam por aqui por acaso ou por desejo e me leem. Beijo especial àqueles que pediram e mandaram e-mail para eu voltar. :-)

P.S. Abaixo parte do resultado causado por ELA.

Clique na imagem para ampliar



La Columna torta e outras torturas

Para ilustrar essa postagem usei as imagens de dois quadros da mexicana Frida Kahlo e uma pintura do americano (fantástico) Lee Price e uma dor nas costas mesmo



Em, 5.1.2011
Por  Pietra Luña



Seletos navegantes, estou INFELIZMENTE impossibilitada de blogar por alguns dias por causa de uma distensão muscular generalizada. Nem a pupila consegue se mexer direito.  As pontas duplas do cabelos estão brigando para ver qual pula primeiro antes de eu cair dura no chão de tanta dor, sem contar que até a sola do pé está solicitando ser palma da mão para ver se pode ser poupada de alguns esforços, do tipo ficar em pé. 


Essa é a minha situação (melhorada) para vocês terem ideia do meu estrago. Ainda assim, como toda pessoa  (addicted  ) empolgada no começo de ano, clone de faxineira,  fui me meter a arrumar estantes num sobe e desce desvairado que a escada achou que os teletubies tinha invadido a área. Sei que foram umas horinhas de trabalho e eu? MORRI tonta e esmagada de dor. 


Então, entrevada na cama, sem computador (pois nem as unhas davam conta, tanto menos os dedos), depois de dois dias sofrendo mais do que piolho fugindo de neocidresolvi desafiar as leis das natureza (que é mais lenta do que minha imaginação e fissura) e fui obedecer às leis dos homens da ciência. 


Num golinho dopei de (Cafeína ... 30 mg Carisoprodol ... 125 mg Diclofenaco sódico .. 50 mg + p punk Paracetamol .. 300 mg) tomei um remedinho  potente (não façam isso, porque automedicação é muito perigoso!) e vi aqui só para não deixar meus milhares de leitores preocupados comigo. Tão logo eu melhore, eu volto para contar mais sobre o que rola nessas ruas (e não ruas, por que pelo visto está difícil sair de casa!) de Brasília. 


Desejem boa sorte aos meus órgãos vitais mais ameaçados fígado e rins (depois de todo os corpo, lógico), pois bula boa adverte. Beijinhos e até... até.... até... até... (ai meu Deus, quantos atés teremos até a próxima edição?) #Meda.

Dieta da chuva

Dieta do Diabo

Em, 4.1.2011
Por  Pietra Luña



Depois das fartas ceias de fim de ano, vem a culpa. Jura a Santa Magreza do Espírito Veronino, ao contrário do que prega a festejante igreja católica, que a comilança de natal e ano novo são coisas do demo para engordar todo mundo e tornar um verão uma espécie de data maldita, com gorduras fritando ao calor dos infernos como o diabo gosta quer. 

Janeiro é o mês dos 4P: das promessas, preces e prescrições. Tem a promessa "nunca mais vou beber e comer desse tanto", tem a prece do emagrecimento do Marcelo Rossi (!?!?) e as prescrições  médicas. e o quarto "P" fica a critério do freguês (ficar puto, pegar todas, meter o pau na vizinha gostosa, ficar perdido, bater punheta, pular a cerca, dar piti, passar fome etc.) 

Na onda do início de ano devagar, as revistecas e jornalicos enchem as bancas com capas milagrosas, mostrando todas as simpatias, previsões mirabolantes para 2011, e, claro, 8.456.676.697 tipos de dietas, uma vez que 94% das mulheres magras se acham gordas. Veja a seguir algumas delas:








Dieta da Chuva

Porém, faltou uma dieta importante, que ainda não sei se emagrece mesmo, embora tenha a mesma característica de passar fome como todas as outras. Eu explico. Há dez dias chove no Distrito Federal, há doze dias meus braços e pernas secretos, que dão conta de toda a casa, saíram de férias. Embora a previsão de que a chuva acabe amanhã, minha fiel secreta(ria) volta apenas no fim do mês. Isso significa que (somado ao fato do patrão ter me dado trabalho para fazer em casa nestas duas semanas) minha geladeira está oca e fria como o tempo de Brasília. Por isso, criei uma nova modalidade: a dieta da chuva.

O mais interessante da dieta da chuva (simples de fazer: ponha no prato o que não há para comer em casa, mexa com a chuva incessante lhe dá muita preguiça e impede de sair nas ruas de Brasília até o mercado, cozinhe tudo no fogo alto da falta de grana para pedir um delivery) é que ela vem acompanhada da dieta da folga.

Dieta da folga

Essa, mais complexa e também chamada de dieta dos restos (ou dos ratos?), consiste em pegar as sobras da ceia (caso você tenha ido em alguma com intimidade para levar uma quentinha) que duram apenas umas 48 horas e passar os próximos dias inventando com os restolhos do armário da dispensa. 

Eu que não tive ceias, por isso não tive perus sobrando nas refeições seguintes, fiquei na seca chuva mesmo. Nessa façanha venho sobrevivendo, segundo contabilidades da despensa, com duas bananas, três pacotes de sódio macarrão instantâneo, duas caixas de suco, uma maça, meio pacote de pão de forma, duas caixas de gelatina, um vidro de palmito, uma lata de leite condensado, uma lata de atum, uma caixa de creme de leite e meio vidro de requeijão. Só.

Até o sol voltar a brilhar nas ruas de Brasília vou criando receitinhas e fazendo contas da minha comida como "No limite". Nesse faz-de-conta, já consegui comer um apfelstrudel (pão de forma e maça na canela com açúcar tostados na frigideira, ahahahah). Claro que comi olhando para uma imagem no computador. Fiz também um "espaguete cacheado ao cream cheese" (nota do tradutor: miojo com requeijão) e bruschettas di tonno (nota do tradutor: torradinhas de atum regados com azeite extravirgem) e assim vamos traduzindo nosso dia a dia parco com muito humor e criatividade antes de o sol nascer. 

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